terça-feira, 17 de agosto de 2010

Autopsicografia - Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que ele não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entrerter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.


Fernando Pessoa


Nota: Esse poema de Fernando Pessoa retrata a alma do poeta, a capacidade de expor em seus poemas a dor, o amor, a agunia, a inquietude que muitas vezes não sente, mas finge tão intensamente, que o leitor consegue sentir.

Luís Fernando Veríssimo





Pensando bem em tudo que a gente vê e vivencia e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa, faz tudo certinho! Chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada. A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor... A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar, que é pra na hora de vocês se encontrarem, a entrega ser muito mais verdadeira. A pessoa errada é, na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa. Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas. Essa pessoa vai tirar seu sono, talvez te magoe e depois te encha de mimos, pedindo perdão. Essa pessoa pode não estar cem por cento do tempo ao seu lado, mas vai estar cem por cento da vida dela esperando você. Vai estar o tempo todo pensando em você. A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo, porque a vida não é certa. Nada aqui é certo! O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo... E só assim é possivel chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças a Deus, deu tudo certo"! Quando na verdade, tudo o que Ele (Deus) quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem realmente a funcionar certo!












Luís Fernando Veríssimo

sábado, 14 de agosto de 2010

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.




Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,

se é que virão.




O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,
pra quê.




Entretanto, você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe e nem saberá.




Carlos Drummond de Andrade.






Drummond é um dos maiores e melhores poetas brasileiros contemporâneos.

sábado, 7 de agosto de 2010

O amor é uma droga

O amor é como uma droga. No começo vem a sensação de euforia, de total entrega. Depois, no dia seguinte, você quer mais; ainda não viciou, mas gostou da sensação e acha que pode mantê-la sob controle. Pensa na pessoa amada dois minutos e esquece por três horas. Mas aos poucos você se acostuma com aquela pessoa e passa a depender completamente dela. Então, pensa por três horas e esquece por dois minutos. Se ela não está por perto, você experimenta as mesmas sensações que o viciado tem quando não consegue a droga: sente falta, parece que algum órgão seu foi retirado. Neste momento, assim como os viciados roubam e se humilham para conseguir o que precisam, o indivíduo que ama, está disposto a fazer qualquer coisa por amor.

(PAULO COELHO)
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PS: Tenho que grifar que não sou fã, admiradora e muito menos leitora de Paulo Coelho. Com todo respeito, até porque a literatura tem espaço para todos. Mas a literatura de Paulo Coelho não é a do tipo que se enquadra nos padrões que prefiro. Mas esse texto, em particular, sempre tive como interessante.